quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

MESMO QUE NO SEU FIM

Correr não me assenta nem me afugenta. Se meu corpo é um conjunto de órgãos e tecidos que funcionam harmonicamente em prol de me manter num estado de equilíbrio geral em repouso, também é verdade que quando estou correndo todos esses órgãos e tecidos estarão, ou deverão estar, funcionamento com o mesmo intuito.
Na corrida, corpo, mente e espírito continuam sendo um todo. O coração acelera, o corpo sua, o pensamento voa, o chão fica, a poeira sobe, dores e desconfortos surgem e vão, o vento bate e o tempo passa. Correr, pra mim, é felicidade, é paixão, é amor e um bom desafio, para manter essa totalidade.
Porém, também é verdade, que sair de um estado de conforto, comodidade para encarar retas, subidas, descidas, buracos, pedras, paus, carros, asfalto, areia, mato, chuva, seca, sol, não é tarefa das mais fáceis. Contudo, nada disso se torna, para mim dificuldade nesse momento. Corro para ter mais felicidade, para transcender pensamentos, inundar meu coração de mais amor por minha vida e pelo outro, para compreender um pouco mais de mim mesmo e para deixar marcas, que muitas vezes somente eu as carrego, vejo ou sinto.
Numa próxima vez que eu colocar os pés na estrada, nem tudo será igual, em razão de que o trajeto, o esforço, o calor, os pensamentos, as batidas do coração e a música que ouço poderão ser outras. Eu mesmo serei outro, pois o tempo passou e mais velho estarei. Nesse tempo o que ocorreu comigo? Que necessidades, desejos e interesses, virão dessa vez comigo, não é mesmo? Ai, então, vou colocando tudo no lugar ou não, pois posso sim abandonar tudo isso e construir um novo mundo. Enquanto corro,  o que penso, o que faço, o que sinto, e etc. na verdade não mudará nada do que ficou de fora, a não ser a mim mesmo.
Tudo que são vicios, não é bom para ninguém. Assim, não digo que correr é um vicio em minha vida ou outra coisa semelhante. Então, eu gosto de correr, porque é bom correr, me faz bem, me diverte, me faz pensar no meu coração, nas minhas paixões, nas minhas tristezas, nas minhas dores, nos meus desejos e muito mais, pois ela não me deixa acomodar, para enfrentar os desafios que a vida nos oferece todos os dias da nossa vida e para completar, ver o céu aberto, ao longe o horizonte, a mata do cerrado ao meu lado e o vento batendo no rosto, não tem preço, mesmo que no seu fim, haja a dor.


Imagem de arquivo pessoal.