segunda-feira, 5 de abril de 2010

MUDO, MAS NÃO MUDO MUITO

Nem sempre sou igual ao que digo e escrevo.

Mudo, mas não mudo muito.

A cor das flores não é a mesma ao sol

De que quando uma nuvem passa

Ou quando entra a noite

E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.

Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem em mim:

Se estava virado para a direita,

Voltei-me agora para a esquerda,

Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés -

O mesmo sempre, graças ao céu e à terra

E aos meus olhos e ouvidos atentos

E à minha clara simplicidade de alma...


ALBERTO CAEIRO

* 1889 + 1915

Poeta português ligado à natureza



Imagem: Arquivo pessoal. Morro da Urca.

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